domingo, 22 de outubro de 2017

"O Assobiador", de Ondjaki

   Ondjaki é um autor pelo qual ganhei uma curiosidade recente, nomeadamente depois de ler alguns dos seus poemas, tão parecidos temática e semanticamente com a prosa de Mia Couto. E, apesar de ter sido uma leitura muito breve, fiquei curioso com este O Assobiador para continuar a minha leitura das obras deste autor angolano. A literatura lusófona não se resume, nem deve, apenas aos autores portugueses e brasileiros, engloba todo um conjunto de nações e culturas com um, ou vários, momentos do passado em comum. Não só acrescenta dinâmica ao falar/escrever português, como também dá a conhecer outra forma de ver um mundo através das mesmas lentes. É por essa razão que eu penso que a leitura é importante, ainda para mais aquela que me dá a conhecer a minha cultura e o efeito dela em outras. Introdução feita, adiante.
   Como se trata de um livro pequeno (novela), a história é breve. Certo dia, algo espanta o Padre de uma aldeia, um som encantador e sentido que preenche toda a igreja e atrai as pombas a ouvi-lo. Esse som é um assobio. Deste ponto de partida, a história desenvolve-se apresentando os vários personagens que povoam a aldeia e as suas histórias, prazeres e angústias pessoais. Todas estas personagens confluem para um final tão inesperado como curioso, que explora aquela grande ligação entre o sentimento humano e a música (nesta história, pelos lábios de um Assobiador anónimo).
   Como se trata de uma novela breve, um texto pequeno, pareceu-me breve a leitura desta obra, facto que contribui positivamente e negativamente. Positivamente porque me deixou curioso para explorar mais obras do autor; mas negativamente porque não pude sentir plenamente a escrita do autor. Tratando-se de uma obra inicial do autor, não posso deixar de referir a sua maturidade mascarada de ingenuidade; a sua escrita simples esconde atrás de si algo mais profundo, algo que se descobre com a leitura do livro.O que achei mais interessante no livro foi a forma brusca como o final quebra com toda a construção. É um final de facto estranho ao teor do resto da novela (pelo menos, pareceu-me), mas não completamente desligado do tema geral. O português com características próprias locais é também, não só neste livro, um ponto muito a favor das obras de autores lusófonos, pois permite ter um vislumbre de duas culturas unidas em palavras comuns, algo que me apraz imenso e me dá um prazer imenso de leitura. 
   Como referi, trata-se de um texto breve, pelo que nada  mais tenho a acrescentar. Os motivos que apresentei servem para convencer a ler obras de autores lusófonos. Por isso, recomendo a leitura desta novela, trata-se de um bom início na obra do autor.

Citações:
"Os olhos quase descaíam em choro mirando o sol subdividindo-se, ao fim da tarde, em cada gota dessa precipitação lentadinosa, faz conta o astro maior se fosse derretendo todos os dias um poucochinho mais."
"A cama, o quarto e o seu corpo exalavam o intenso perfume de sal que o mar usa há milénios, essa poética densidade dos ares a que chamam maresia."
"O efeito era espantosamente belo: ao tocar na asa, a gota de água misturificava-se nela, desfazendo-a, isto é, fazendo-a nascer-se num arco-íris alienígena e colorificamente indescritível, que se desintegrava antes de tocar o chão."


Pontuação: 6.5/10


Gonçalo Martins de Matos

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Suspensão da leitura de "2666"

Há livros que pela sua natureza requerem paciência na sua leitura, há histórias que pela sua densidade requerem pausas para se recuperar o fôlego. Posto isto, e porque "2666" está a consumir o meu tempo de leitura sem que desse tempo resulte alguma leitura efetivamente, suspendo assim a leitura que estou a fazer desta obra extremamente densa, até recuperar o fôlego e voltar a mergulhar no vastíssimo universo de Roberto Bolaño.