A história de Dorian Gray e do seu retrato é bastante conhecida no seio da literatura moderna inglesa, e uma história marcante no contexto da literatura ocidental. Os temas que Oscar Wilde aborda na sua obra fazem de O Retrato de Dorian Gray um romance de final de século, quando a literatura preparava já o boom modernista dos século seguinte. É por essa razão principalmente que este romance é considerado marcante na literatura ocidental.
Dorian Gray é um jovem extremamente belo, e Basil Hallward um pintor ensimesmado e profundamente moral. Estes dois iniciam assim representados a narrativa do romance, com Hallward maravilhado enquanto pinta um retrato de corpo inteiro de Dorian. É-nos neste momento também apresentado Lord Henry Wotton, um nobre decadentista e novo-hedonista, cujas filosofias libertinas e narcisistas captam a atenção do jovem Dorian. Lord Henry fascina-se pela beleza de Dorian e começa, a partir desse dia em que se conheceram, a seguir de perto a evolução do jovem, a contragosto do pintor, que teme que as filosofias decadentistas de Lord Henry corrompam a mocidade do jovem. Lord Henry acrescenta que o retrato que Basil fez de Dorian é o pico da sua arte. Cada vez mais influenciado pelas teses de Lord Henry, Dorian fica desejoso de experimentar o prazer de experiências novas, mas teme pelos estragos que na corrupção causada pelas mesmas distorçam a sua juventude. Apaixonando-se por uma jovem atriz, mas terminando essa paixão de forma gélida e insensível, a atriz mata-se e Dorian descobre que o seu retrato se distorceu ligeiramente. Chega então à conclusão que o seu retrato é que irá envelhecer pelos seus pecados, a corrupção deformará apenas a sua imagem. E é com base nesta suposição que se desenvolve o resto da narrativa, com Dorian a experimentar novas sensações, quer morais, quer imorais, pelo simples prazer da experiência tão defendido por Lord Henry. Tudo isto culmina num crime e dá caminha em decadência para um final simultâneamente sinistro e poético.
A obra enquadra-se, tematicamente, na corrente do esteticismo, uma versão vitoriana do simbolismo/decadentismo que viria a evoluir para o modernismo. A obra apresenta também traços do romance gótico. Em O Retrato de Dorian Gray, o símbolo domina a narrativa. Há três personagens-chave do romance que representam a visão decadentista do autor: Dorian Gray, que representa a inocência da juventude e, posteriormente, o resultado aterrador de uma inocência corrompida; Basil Hallward, que representa os valores morais defendidos pela tradição e pelo costume da sociedade; e Henry Wotton, que representa as novas filosofias e as novas experiências libertinas que corrompem a moralidade da inocência. Sendo este um romance esteticista, não faltam espalhadas pela obra as referências à beleza e à arte, e não faltam descrições detalhadas de cores, cheiros e sons. Essas descrições fascinaram-me, uma vez que Oscar Wilde descreve perfumes e cores de uma maneira tão viva que quase se consegue ver, ouvir e sentir o que está a ser descrito.
Sem mais nada a acrescentar, declaro que este livro é esteticamente belo, e a sua história é aliciante, pelo que recomendo a todos os amantes do que é belo a lerem esta obra emblemática.
Citações:
"Porque influenciar uma pessoa é transmitir-lhe a nossa própria alma. Ela não pensa já os seus pensamentos, nem arde com as suas paixões naturais. As suas virtudes não são realmente dela, Os seus pecados, se se pode dizer que existam pecados, são emprestados."
"Dos lábios do pintor brotou uma exclamação horrorizada, quando viu à meia luz a face hedionda que na tela parecia arreganhar os dentes para ele. Havia na sua expressão qualquer coisa que o enchia de desgosto e de nojo. Deus do Céu! Era o próprio rosto de Dorian Gray que contemplava!"
"A Arte não tem qualquer influência sobre a ação. A arte aniquila o desejo de agir. É soberbamente estéril. Os livros que o mundo considera imorais são aqueles que lhe põem diante dos olhos as suas próprias vergonhas."
Pontuação: 8.9/10
Gonçalo Martins de Matos
Dorian Gray é um jovem extremamente belo, e Basil Hallward um pintor ensimesmado e profundamente moral. Estes dois iniciam assim representados a narrativa do romance, com Hallward maravilhado enquanto pinta um retrato de corpo inteiro de Dorian. É-nos neste momento também apresentado Lord Henry Wotton, um nobre decadentista e novo-hedonista, cujas filosofias libertinas e narcisistas captam a atenção do jovem Dorian. Lord Henry fascina-se pela beleza de Dorian e começa, a partir desse dia em que se conheceram, a seguir de perto a evolução do jovem, a contragosto do pintor, que teme que as filosofias decadentistas de Lord Henry corrompam a mocidade do jovem. Lord Henry acrescenta que o retrato que Basil fez de Dorian é o pico da sua arte. Cada vez mais influenciado pelas teses de Lord Henry, Dorian fica desejoso de experimentar o prazer de experiências novas, mas teme pelos estragos que na corrupção causada pelas mesmas distorçam a sua juventude. Apaixonando-se por uma jovem atriz, mas terminando essa paixão de forma gélida e insensível, a atriz mata-se e Dorian descobre que o seu retrato se distorceu ligeiramente. Chega então à conclusão que o seu retrato é que irá envelhecer pelos seus pecados, a corrupção deformará apenas a sua imagem. E é com base nesta suposição que se desenvolve o resto da narrativa, com Dorian a experimentar novas sensações, quer morais, quer imorais, pelo simples prazer da experiência tão defendido por Lord Henry. Tudo isto culmina num crime e dá caminha em decadência para um final simultâneamente sinistro e poético.
A obra enquadra-se, tematicamente, na corrente do esteticismo, uma versão vitoriana do simbolismo/decadentismo que viria a evoluir para o modernismo. A obra apresenta também traços do romance gótico. Em O Retrato de Dorian Gray, o símbolo domina a narrativa. Há três personagens-chave do romance que representam a visão decadentista do autor: Dorian Gray, que representa a inocência da juventude e, posteriormente, o resultado aterrador de uma inocência corrompida; Basil Hallward, que representa os valores morais defendidos pela tradição e pelo costume da sociedade; e Henry Wotton, que representa as novas filosofias e as novas experiências libertinas que corrompem a moralidade da inocência. Sendo este um romance esteticista, não faltam espalhadas pela obra as referências à beleza e à arte, e não faltam descrições detalhadas de cores, cheiros e sons. Essas descrições fascinaram-me, uma vez que Oscar Wilde descreve perfumes e cores de uma maneira tão viva que quase se consegue ver, ouvir e sentir o que está a ser descrito.
Sem mais nada a acrescentar, declaro que este livro é esteticamente belo, e a sua história é aliciante, pelo que recomendo a todos os amantes do que é belo a lerem esta obra emblemática.
Citações:
"Porque influenciar uma pessoa é transmitir-lhe a nossa própria alma. Ela não pensa já os seus pensamentos, nem arde com as suas paixões naturais. As suas virtudes não são realmente dela, Os seus pecados, se se pode dizer que existam pecados, são emprestados."
"Dos lábios do pintor brotou uma exclamação horrorizada, quando viu à meia luz a face hedionda que na tela parecia arreganhar os dentes para ele. Havia na sua expressão qualquer coisa que o enchia de desgosto e de nojo. Deus do Céu! Era o próprio rosto de Dorian Gray que contemplava!"
"A Arte não tem qualquer influência sobre a ação. A arte aniquila o desejo de agir. É soberbamente estéril. Os livros que o mundo considera imorais são aqueles que lhe põem diante dos olhos as suas próprias vergonhas."
Pontuação: 8.9/10
Gonçalo Martins de Matos
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