A história de A Quinta dos Animais é uma das mais conhecidas da literatura universal, e são duas as razões, a meu ver, principais para que assim seja: trata-se de uma das fábulas satíricas melhor escritas e equilibradas e a sua análise inerentemente intrínseca à condição e à fraqueza humana. A Quinta dos Animais é considerado um dos melhores romances do século XX, e os temas universais que o compõem são ainda hoje estudados e analisados. Este romance faz parte do imaginário português, no entanto, sob outro título, a primeira tradução em língua portuguesa: O Triunfo dos Porcos.
Cansados da tirania dos seres humanos e inspirados por um grande líder muito respeitado por todos, os animais da Quinta do Infantado revoltam-se contra os opressores humanos e tornam-se senhores dos seus próprios destinos. Libertos do jugo humano, os animais, mais precisamente, os porcos, decidem reorganizar a quinta com um novo sistema político e ideológico, o animalismo, segundo o qual todos os animais são iguais. Os princípios do animalismo são compilados em Sete Mandamentos, que todos os animais devem respeitar de forma a que a vida na quinta corra da melhor maneira possível. No entanto, esses princípios vão sendo aos poucos violados pelos animais que tomaram as rédeas da Quinta dos Animais, os porcos, sendo que Napoleão vai aos poucos tomando o controlo de todos os aspetos da vida dos animais. Ajudado por Tagarela, um porco com o dom da retórica, Napoleão gradualmente molda e distorce os princípios originais do animalismo de forma a servir unicamente os seus interesses e os dos outros porcos. A história, em paralelo com isto, vai narrando como decorria a vida dos restantes animais da quinta. No final, Napoleão e os porcos subverteram de tal maneira as teses do animalismo que apenas sobra um mandamento, "Os animais são todos iguais mas uns são mais iguais que os outros", tornando-se eles nos opressores.
Eu achei o livro perfeito. Sei que é uma palavra muito perigosa de se usar num tema subjetivo, mas perfeição encaixa perfeitamente, passe a redundância, na obra A Quinta dos Animais. Toda a sua história é concisa, mas elucidativa, simples, mas complexa, equilibrada e escrita com mestria. Tudo na obra é uma alegoria de qualquer coisa. A Quinta dos Animais serve como a Rússia nos seus anos soviéticos, os animais representam, claro, o povo russo, Napoleão é uma alegoria de Josef Stalin, Tagarela, uma alegoria de Molotov, Bola-de-Neve uma alegoria de Lenin e de Trotski, o Velho Major uma alegoria de Marx e Lenin, o velho burro Benjamim uma alegoria do próprio George Orwell, todos os eventos que se passam na história seguem alegoricamente a sucessão reais de eventos na Rússia... enfim, toda a obra é uma grande alegoria satírica da situação russa no século XX. Mas mais que a alegoria, como anteriormente referi, a obra ganha com a sua profunda análise da condição humana, e das suas fraquezas, nomeadamente, a fraqueza do luxo e do poder. A revolução dos animais começou baseada na igualdade e na fraternidade e, devido à ânsia de poder de alguns, todos acabam por sofrer com a lenta e inevitável corrupção dos princípios justos. Napoleão representa precisamente essa corrupção dos princípios morais humanos, tendo calhado a Stalin ser o representante alegórico dessa decadência ética, através do personagem do porco. Mas nem todas as sociedades justas evoluem para ditaduras, e é neste ponto que julgo encontrar-se a genialidade de A Quinta dos Animais; quase todas as democracias modernas evoluíram para sistemas em que poucos controlam todos e os interesses prosseguidos por esses poucos são exclusivamente os seus. Está aqui a corrupção e distorção dos princípios morais do ser humano devido à sua grande fraqueza pelo poder.
Portanto, resumindo, o livro é brilhante e inspirado, e penso tratar-se de uma das leituras obrigatórias para todos os seres humanos sem exceção, tenham ou não o hábito da leitura.
Citações:
"«O Homem é a única criatura que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos, é demasiado fraco para puxar o arado, não consegue correr suficientemente depressa para caçar coelhos. E, todavia, é amo e senhor de todos os animais. Obriga-os a trabalhar, dá-lhes o mínimo indispensável para evitar que morram de fome e guarda o resto para si."
"Ao longo daquele ano inteiro, os animais trabalharam que nem escravos, mas, apesar disso, sentiam-se felizes; não se poupavam a esforços nem a sacrifícios, bem cientes de que tudo o que faziam era para benefício próprio e das futuras gerações de animais, e não para um bando de seres humanos preguiçosos e ladrões."
"Por uma vez, Benjamim consentiu em quebrar a sua regra e leu-lhe em voz alta o que estava escrito na parede. Já só restava um único Mandamento, que rezava assim:
Cansados da tirania dos seres humanos e inspirados por um grande líder muito respeitado por todos, os animais da Quinta do Infantado revoltam-se contra os opressores humanos e tornam-se senhores dos seus próprios destinos. Libertos do jugo humano, os animais, mais precisamente, os porcos, decidem reorganizar a quinta com um novo sistema político e ideológico, o animalismo, segundo o qual todos os animais são iguais. Os princípios do animalismo são compilados em Sete Mandamentos, que todos os animais devem respeitar de forma a que a vida na quinta corra da melhor maneira possível. No entanto, esses princípios vão sendo aos poucos violados pelos animais que tomaram as rédeas da Quinta dos Animais, os porcos, sendo que Napoleão vai aos poucos tomando o controlo de todos os aspetos da vida dos animais. Ajudado por Tagarela, um porco com o dom da retórica, Napoleão gradualmente molda e distorce os princípios originais do animalismo de forma a servir unicamente os seus interesses e os dos outros porcos. A história, em paralelo com isto, vai narrando como decorria a vida dos restantes animais da quinta. No final, Napoleão e os porcos subverteram de tal maneira as teses do animalismo que apenas sobra um mandamento, "Os animais são todos iguais mas uns são mais iguais que os outros", tornando-se eles nos opressores.
Eu achei o livro perfeito. Sei que é uma palavra muito perigosa de se usar num tema subjetivo, mas perfeição encaixa perfeitamente, passe a redundância, na obra A Quinta dos Animais. Toda a sua história é concisa, mas elucidativa, simples, mas complexa, equilibrada e escrita com mestria. Tudo na obra é uma alegoria de qualquer coisa. A Quinta dos Animais serve como a Rússia nos seus anos soviéticos, os animais representam, claro, o povo russo, Napoleão é uma alegoria de Josef Stalin, Tagarela, uma alegoria de Molotov, Bola-de-Neve uma alegoria de Lenin e de Trotski, o Velho Major uma alegoria de Marx e Lenin, o velho burro Benjamim uma alegoria do próprio George Orwell, todos os eventos que se passam na história seguem alegoricamente a sucessão reais de eventos na Rússia... enfim, toda a obra é uma grande alegoria satírica da situação russa no século XX. Mas mais que a alegoria, como anteriormente referi, a obra ganha com a sua profunda análise da condição humana, e das suas fraquezas, nomeadamente, a fraqueza do luxo e do poder. A revolução dos animais começou baseada na igualdade e na fraternidade e, devido à ânsia de poder de alguns, todos acabam por sofrer com a lenta e inevitável corrupção dos princípios justos. Napoleão representa precisamente essa corrupção dos princípios morais humanos, tendo calhado a Stalin ser o representante alegórico dessa decadência ética, através do personagem do porco. Mas nem todas as sociedades justas evoluem para ditaduras, e é neste ponto que julgo encontrar-se a genialidade de A Quinta dos Animais; quase todas as democracias modernas evoluíram para sistemas em que poucos controlam todos e os interesses prosseguidos por esses poucos são exclusivamente os seus. Está aqui a corrupção e distorção dos princípios morais do ser humano devido à sua grande fraqueza pelo poder.
Portanto, resumindo, o livro é brilhante e inspirado, e penso tratar-se de uma das leituras obrigatórias para todos os seres humanos sem exceção, tenham ou não o hábito da leitura.
Citações:
"«O Homem é a única criatura que consome sem produzir. Não dá leite, não põe ovos, é demasiado fraco para puxar o arado, não consegue correr suficientemente depressa para caçar coelhos. E, todavia, é amo e senhor de todos os animais. Obriga-os a trabalhar, dá-lhes o mínimo indispensável para evitar que morram de fome e guarda o resto para si."
"Ao longo daquele ano inteiro, os animais trabalharam que nem escravos, mas, apesar disso, sentiam-se felizes; não se poupavam a esforços nem a sacrifícios, bem cientes de que tudo o que faziam era para benefício próprio e das futuras gerações de animais, e não para um bando de seres humanos preguiçosos e ladrões."
"Por uma vez, Benjamim consentiu em quebrar a sua regra e leu-lhe em voz alta o que estava escrito na parede. Já só restava um único Mandamento, que rezava assim:
TODOS OS ANIMAIS SÃO IGUAIS MAS UNS SÃO MAIS IGUAIS DO QUE OUTROS"
Pontuação: 10/10
Gonçalo Martins de Matos
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