sexta-feira, 13 de junho de 2014

"O Ano Sabático", de João Tordo


   O Ano Sabático, embora não sendo o livro mais genial do autor (na minha opinião, pelo menos), não deixa de ser uma obra magnífica e interessante. Tal como os seus livros anteriores, este é uma afirmação do potencial e do talento de João Tordo e da sua inserção no top dos mais geniais da Nova Geração da literatura portuguesa. Trata-se de uma história complexa, com um toque subtil de análise da contemporaneidade e com um ligeiro aroma a subjetividade que alimenta qualquer amante de boa literatura.
   A história narrada nesta obra tem a sua base num acontecimento real (como têm sido todas as obras de Tordo até ao momento). Neste caso diz-nos o autor que, quando era pequeno, não nasceu apenas ele, mas também um gémeo idêntico que morreu nas primeiras horas de vida.
   O livro divide-se em duas partes, a primeira narrada na terceira pessoa e a segunda narrada na primeira pessoa. A primeira relata a chegada de um contrabaixista, apresentado ao leitor como Hugo, a Lisboa após a decisão de tirar um ano sabático da sua carreira por comportamento errático no Quebec. Uma noite decidiu o protagonista assistir ao concerto de um músico que se tornara recentemente famoso. Mas quando este toca o tema exato que Hugo vinha a compor na sua cabeça, a sua vida desmorona-se e este enceta numa procura pela verdade, entrando em declínio até atingir a loucura final, especialmente quando começa a duvidar da sua identidade quando o começam a confundir na rua com Stockman. A segunda parte cabe ao narrador do romance destrinçar o emaranhado de realidades e ficções que unem a vida de Hugo e Stockman.
   Tal como outras obras de João Tordo, este romance é uma afirmação de que o talento do autor está a florescer e ainda nos trará muitos prazeres de leitura. Ainda falando da história desta obra, é uma narrativa que vai em crescendo até atingir o pico, o fôlego final que nos deixa suspensos e a refletir. Quando uma obra literária o consegue, então já atingiu a sua razão de ser. Deixo assim ao leitor o convite de ler uma magnífica obra de "uma das melhores vozes da ficção portuguesa" (Francisco José Viegas).

Citações:
"Decidiu-se por um ano sabático embora ninguém lho tivesse concedido."
"«É ele, não é?», perguntou a mulher com um sorriso tímido.
«Como?», perguntou Hugo.
A mulher apontou para o disco de Stockman.
«É você, só que está sem barba.»"
"Nos últimos anos da minha vida fui muito próximo de Luís Stockman."


Pontuação: 8.9/10


Excelentes leituras,
Gonçalo M. Matos