quinta-feira, 25 de agosto de 2016

"A Morte de Ivan Ilitch", de Liev Tolstoi

   Liev Tolstoi é um dos gigantes da literatura mundial, sendo autor de obras de peso nesta. Por isso, a melhor maneira de começar por um autor tão intemporal e universal como Tolstoi é com a sua pequena novela A Morte de Ivan Ilitch, considerada como a melhor novela da história da literatura, ou a melhor novela sobre a temática da morte. Uma obra-prima que reflete sobre a vida e a morte, e o papel do ser humano no meio destas, sobre as virtudes do ser humano e a grande mentira que é viver. 
   A história começa com a notícia da morte de Ivan Ilitch, o que nos transmite já a pouca importância que a narração tem, sendo a reflexão o que compõe maioritariamente a obra. Os seus amigos e familiares vão a casa deste prestar a sua homenagem. Após esta pequena introdução, o narrador descreve brevemente a vida de Ivan Ilitch, desde a infância à data do seu casamento. Após uma mudança de cidade, Ivan Ilitch vive feliz e realizado, mas por pouco tempo. Quando começa a sentir uma dor terrível e um sabor estranho na boca, não obstante os conselhos dos médicos e as palavras dos familiares, principalmente da sua mulher, Praskovia Fiodorovna, começa a entrar em depressão, atormentando-se se seriam as suas dores sinais da morte que se avizinha. Cada vez, mais deprimido e frágil, Ivan Ilitch apercebe-se de várias coisas sobre a vida e a morte, chegando a uma desconcertante conclusão sobre a vida que levou e sobre a vida que todos levam. 
   A novela é uma grande reflexão do protagonista sobre a justiça do que lhe aconteceu, sobre a sua vida, sobre as vidas dos outros e sobre a morte. É uma obra muito metafísica e existencialista, questionando sobre a morte, a vida e o papel do ser humano no meio destas, a sua fragilidade e impotência perante a grandiosidade da existência e a imprevisibilidade da existência. É uma obra que reflete sobre estes temas sem nos cansar, não somos sobrecarregados com filosofia em demasia nem nos desiludimos com a falta de história, tem ambos os elementos em equilíbrio. E leva-nos também a refletir sobre a nossa existência, criando-nos uma empatia com a aflição e o desespero do protagonista. 
   Portanto, aconselho que esta novela seja lida e apreciada. Todos nós já refletimos sobre a vida, a morte e as nossas vidas, e esta obra acrescenta-nos mais pontos de vista sobre os quais refletir. É uma novela intemporal por um génio universal.

Citações:
"Sim, a vida estava aí e vai-se embora, vai-se embora e não a posso segurar. Sim, para que me ando eu a enganar? Não é acaso bem evidente a todos, exceto a mim, que a morte mais dia menos dia me catrafila? A questão é só do número de semanas ou de dias que ainda faltam; não é verdade que posso morrer agora mesmo? Vivia na luz e eis-me envolto nas trevas."
"O exemplo de silogismo que lá ensinavam na lógica:«Caio é homem, os homens são mortais, logo Caio é mortal» sempre lhe parecera muito correto com relação a Caio, mas incorretíssimo com relação a si mesmo. Tratava-se de Caio, do homem em geral, e assim muito bem."
"Chorava pensando na sua impotência, na sua horrível soledade, na crueldade dos homens, na crueldade de Deus, na ausência de Deus."


Pontuação: 8/10


Metafísicas leituras,
Gonçalo M. Matos

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