sexta-feira, 30 de março de 2018

"As impertinências do Cupido", de Ana Gil Campos

   Saído de leituras pesadas e extensas, nada como recuperar o fôlego com uma leitura leve mas que não caia naquela categoria em que caem a maioria das light novels que são publicadas atualmente e que deixam um bom leitor amargurado com o mercado livreiro. É precisamente nesse meio que se encontra este terceiro livro de Ana Gil Campos: é um livro leve, de leitura rápida e escrita sóbria, sem cair em clichés e lugares-comuns dos livros fast-food.
   A história (ou histórias) segue a vida de diversos moradores de um bairro brasileiro, o Itaim Bibi, nas suas peripécias, frustrações, deceções, satisfações e inquietações amorosas. Seguimos as vidas de Mónica e Eduardo, Júlia, Roberto, Joana e Vasco, Rodrigo, Sara, Sofia, e outros, cujas visões, frustrações e cogitações sobre o amor nos dá um vislumbre sobre as várias formas de interpretar o amor nos dias que correm e sobre a pluralidade de formas que podem as relações amorosas assumir. 
   Formalmente, este livro aparenta ser um conjunto de contos, mas na verdade estilo é mais episódico, ou seja, não existe uma história principal a conectar todas as histórias, mas existe um fio condutor que nos guia através de todos os episódios que nos são narrados. As personagens são-nos apresentadas, são desenvolvidas e depois convivem umas com as outras (uma vez que vivem no mesmo bairro), interagindo das várias maneiras possíveis. A narradora tem uma voz peculiar. É romanticamente cínica, ou seja, relata-nos tudo o que se passa com vocábulos típicos dos românticos, mas que são empregues ironicamente. Nota-se que a narradora segue com algum divertimento as peripécias das personagens, mas com uma certa impaciência para as suas loucuras e devaneios. A escrita, por seu lado, é bastante agradável e sóbria, não é muito pesada e entretém, que é o objetivo, afinal, deste conjunto de episódios. 
   Posto isto, e porque, como já referi, há cada vez mais leituras leves que são uma autêntica palhaçada, recomendo que sejam lidos mais livros como este, que não são grandes romances ou literatura mais psicológica, mas mesmo assim entretêm sem esventrar os conceitos de qualidade literária e escrita acessível. 

Citações:
"O casal sabe que Sara e Rodrigo não suportam estes caprichos pirosos que os amigos comprometidos têm de se armarem em cupidos que sonham ser padrinhos de casamento de alguém. Contudo, Joana e Vasco não imaginam que, a partir deste jantar, a relação entre os quatro mudará para sempre."
"Já na joalharia do Shopping Iguatemi, Daniela pede para ajustarem a aliança do Francisco à medida do seu próprio dedo, e Francisco pede para alargarem a aliança da esposa à medida do seu dedo, isto é, pretendem trocar entre eles as alianças que trocaram na cerimónia do casamento.
- Assim, estaremos casados connosco próprios e seremos fiéis a nós próprios"


Pontuação: 5.8/10


Gonçalo Martins de Matos

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